No meu texto “A velocidade da Maquina” falei um pouco sobre gostar de capturar os movimentos congelados e como fiz isso utilizando vários modelos de máquinas. Adoro capturar todos os tipos de movimentos, mas um dos que mais me da prazer em capturar são os movimentos de Karate. Lembro até hoje quando o nosso colunista Akira Saito me perguntou se gostaria de fazer fotos de Karate para a academia dele lá nos idos de 2009. Fiquei com receio e respondi que só tinha experiência com Shows de Rock e ele falou: “Não tem problema! Já vi as suas fotos e achei elas boas. Sei que você vai pegar o jeito!” e claro que as primeiras fotos saíram horríveis! Não só as primeiras, mas as segundas, as terceiras…
Um dia fui convidado para ir a um dos treinos para fazer as primeiras fotos e coisa que mais me chamou a atenção foi velocidade dos golpes Atleta Horácio Saito. Parecia algo de filme e no qual a pessoa não consegue enxergar os golpes do oponente! Fiquei ali observando ele fazer o katá e tentando entender o movimentos que ele fazia com as mãos, mas não enxergava nada! Na hora imaginei como seria capturar aqueles socos em uma foto bem bonita! Outro movimento me chamou bastante atenção foi um pulo com dois chutes no ar do katá Suparinpei, chamado de Nidan Geri. Naquele exato momento decidi que iria fazer uma foto dele no ar dando aqueles chutes! Mas não queria fazer uma foto qualquer, queria tirar foto dele fazendo esse movimento em um Campeonato, bem bonitona.
Como falei no primeiro paragrafo, falhei miseravelmente nas primeiras tentativas! Depois da quarta vez eu joguei a toalha. Falei que só conseguiria capturar os movimentos do Horácio com uma máquina mais rápida e fui sentar em umas cadeiras no canto do salão. Enquanto estava sentado ali frustrado e cabisbaixo, fiquei observando o Horácio e o Sensei Akira Saito treinando. Eles estavam visivelmente cansados, mas mesmo assim continuavam treinando e se esforçando, cada um fazendo o seu próprio katá. Enquanto eles estavam lá se esforçando para fazer cada vez melhor, eu simplesmente tinha desistido e novamente colocado a culpa na máquina. Nessa hora eu lembrei de termo em japonês e muito utilizado nas artes marcaias: “Otagai ni” (おたがいに) que significa mutualmente/de um para o outro. Qual direito eu tinha de ter parado de me esforçar enquanto eles estavam lá treinado para serem melhores e, consequentemente, dar uma boa aula aos seus alunos? Peguei a minha câmera, levantei e fui fotografar novamente. Nisso o Sensei Akira Saito perguntou: “Ué, resolveu voltar a fotografar? Você não tinha falado que só dava para fotografar com uma máquina mais rápida?” e eu respondi: “Sim! Mas vou estudar mais sobre fotografia até conseguir capturar o movimento com esta câmera aqui!” enquanto levantava a minha antiga Canon 300D, e ele sorriu.
Voltei para casa e fui estudar mais sobre fotografia. Estudei sobre tempo, iluminação, fotografia esportiva e até mais sobre a minha própria maquina. Percebi que precisava ter controle sobre 3 coisas para ter conseguir a foto que eu queria: 1) Iluminação; 2) Tempo de resposta da máquina; 3) Momento exato do movimento acontecer.
Depois de muito estudar pedi para fotografar mais um treino. Chegando lá peguei tudo o que tinha de informação e fui colocar em pratica. O primeiro item estava fora do meu controle porque a iluminação dos ginásios na maioria das vezes não é das melhores, então parti para o segundo item. Minha experiência em fotografar com várias máquinas ajudou bastante no segundo, mas quando achei que tinha dominado totalmente ele e parti para o terceiro item é que percebi uma coisa: Além do tempo da maquina, eu também precisava dominar o meu tempo de reação aos acontecimentos porque várias vezes eu demorei muito tempo entre perceber o movimento e apertar o botão. Somente quando eu tive certeza que tinha melhorado o meu tempo de reação é que eu eu fui me dedicar ao terceiro item.
Com tudo os três itens dominados fui confiante de que iria conseguir fotografá-lo em um Campeonato, mas o resultado, que vocês podem ver abaixo, foi um desastre por causa de um 4º item que não tinha considerado na equação do problema: a minha ansiedade!
Tinha me preparado muito e por muito tempo para aquele momento e eu só tinha uma chance e um disparo! A hora do pulo estava chegando e meu coração começou a acelerar, eu fiquei nervoso, me afobei e, além de ter disparado a câmera cedo demais, errei o enquadramento. Fiquei frustrado e chateado por deixado passar aquela oportunidade e não sabia quando teria outra chance. Vocês podem falar “Chibbas, porque você não usou o modo de disparo continuo/multi burst?” E eu respondo: Por dois motivos! 1) Na época minha câmera não era rápida o suficiente para pegar os golpes no momento que eu queria. 2) Mesmo utilizando câmera rápida, percebi que as vezes o multi burst não é rápido o suficiente para pegar o golpe no momento certo. (Vou falar sobre isso em um texto futuro).
Seis meses depois tive outra oportunidade e o resultado foi pior ainda! Além de errar o tempo, também errei o foco. Não estava tão nervoso quando da outra vez, mas mesmo assim estava bastante nervoso. Na hora achei que seria melhor focar quando ele começasse o pulo, mas perdi o momento e o auto-foco focou o fundo. E minha afobação fez eu apertar disparar a máquina muito antes da hora. Dessa vez a perna nem tinha começado a esticar.
Voltei casa chateado por ter perdido outra oportunidade, mas ao mesmo tempo um pouco feliz porque pelo menos não tinha deixado a ansiedade me dominar tanto quanto da outra vez. Analisando as minhas fotos percebi que estava no caminha certo, mas que ainda precisava melhorar três coisas: 1) O momento certo de focar; 2) O momento exato de disparar a câmera durante o pulo; 3) A minha ansiedade.
No ano seguinte pedi para assistir mais um treino, mas agora eu tinha mais noção do que olhar e o momento que estava procurando, então foi bem mais fácil melhorar os itens 1 e 2. O item 3 só iria conseguir melhorar no dia do Campeonato, como diz aquele ditado: “Jogo é jogo e treino é treino.”
No dia do Campeonato meu coração disparou assim que o Horácio começou a fazer o katá pois sabia que o momento de fazer a foto estava próximo. Comecei a respirar fundo, falei para mim mesmo que tinha me preparado para aquilo, me acalmei o máximo que pude e esperei o momento certo. A foto vocês podem ver abaixo:
Quando disparei a maquina, tinha certeza que tinha capturado o momento certo! Olhei pelo pequeno visor da câmera e realmente a foto estava do jeito que imaginei e foi impossível não abrir um enorme sorriso!!! Finalmente tinha capturado o momento que estava buscando há anos! Mas ao chegar em casa e abrir a foto no computador percebi que tinha passado um pouco do tempo e a perna já começava a descer. A sensação que eu tive foi que errei por milésimos de segundos. Fiquei um pouco chateado porque a foto não estava exatamente como gostaria, mas ao mesmo tempo estava extremamente feliz porque estava muito perto do meu objetivo. Era só fazer um pequeno ajuste na hora de bater a foto, mas infelizmente só teria outra oportunidade no próximo ano.
Após um ano finalmente chegou a hora de fazer a foto! Respirei fundo igual ao outro ano, controlei toda ansiedade e nervosismo, lembrei daquela sensação de perder o momento por milésimos de segundos e esperei. Quando fiz a foto abaixo, tive certeza absoluta que ela saiu do jeito que eu queria!
Sim. O braço dele ficou na frente do rosto, mas as pernas estão totalmente esticadas e a foto está quase toda definida do jeito que eu queria, então considero ela praticamente perfeita. E sempre que olho para ela sinto muito orgulho e felicidade!
Claro que toda essa busca por fazer a foto perfeita do Horácio me ajudou em outras coisas. Ficou muito mais fácil fazer fotos de outras pessoas fazendo katá e isso ajudou até a fazer as fotos das lutas de Shiai-kumite ou fotografar outras artes marciais, como Kyudo (Falei um pouco a respeito no meu texto “O Disparo da Uma Flecha“) e Kendo (Vou falar sobre isso em um outro texto futuro).
Um exemplo disso é a foto abaixo. Alguns meses depois de fazer a foto acima tive a oportunidade de fotografar o VII Campeonato Sul-Americano de Karate-Do Goju-Kai e o Seminário Internacional Com o Saiko-Shihan Yamaguchi Goshi. Durante a parte do Seminário voltada aos faixas-pretas o Saiko-Shihan Yamaguchi Goshi passou exercícios sobre o Katá Suparinpei e, para a minha sorte, o nosso colunista Akira Saito começou a fazer o katá bem na minha frente. Nunca tinha visto ele fazer esse katá, então não estava acostumado com o tempo dele executar os golpes. Mas mesmo assim consegui registar ele executando o Nidan Geri no ar e acabou sendo umas das minhas fotos mais bonitas que fiz desse movimento até hoje.
Alguns anos depois consegui trocar minha câmera por uma muito mais rápida e isso ajudou bastante em várias outros aspectos, mas tenho certeza que me não foi ela que me ajudou a fazer a foto abaixo.
Novamente fazia um ano que eu não fotografava o Atleta Horácio Saito fazendo o katá Suparinpei, então quando chegou o momento de fazer o Nidan Geri fui pego de surpresa! Eu já estava acostumado com a altura do pulo dele e o tempo que ele levava para subir e fazer o chute, então quando ele pulou baixo eu me surpreendi. Por um momento achei que não conseguiria fazer a foto, e apesar do pulo ter sido bem menor e mais rápido, foi a experiencia em buscar o momento exato é que me ajudou a fazer essa foto:
Quando era adolescente eu toquei guitarra por um tempo e sempre ouvi os professores de música falando que primeiro o aluno precisava aprender a tocar um violão/guitarra ruim porque se ele tocasse bem em um instrumento ruim, ele conseguiria tocar bem mesmo o instrumento sendo uma guitarra Fender Stratocaster (muito boa) ou um violão Giannini (muito ruim). Nunca concordei com essa coisa que eles falavam até começar essa busca pela foto perfeita. Sempre achei que seria muito mais proveitoso para a pessoa começar a praticar com um equipamento bom, mas eu vi que enquanto eu conseguia registrar as fotos de Karate com minha Canon 300D de 2003, tinha gente que não conseguia registrar as fotos com uma Canon 7D.
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Chibbas
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