Matéria cedida gentilmente por RICARDO NAKASE, fígura super conhecida no cenário musical dos eventos da colônia japonesa no Brasil. Conhecido por suas atuações, Ricardo Nakase é profundo conhecedor da história da música japonesa e suas particularidades.
O Artes do Japão agradece imensamente pelo texto muito bem elaborado, informativo e de fácil compreensão. Com certeza o público ganhará muito com estas informações desta importante parte cultural do Japão. Domou Arigatou Gozaimashita!!!!!
Música Japonesa: Aspectos Gerais
O Japão é reconhecido mundialmente como um país ligado diretamente à cultura musical. A classe artística japonesa (cantores, compositores, dançarinos, atores, etc) são muito respeitados e admirados pelos japoneses. Indo contra as perspectivas mundiais, o Japão chega até à registrar um leve crescimento na venda de CDs e DVDs musicais nos últimos anos. Esse fato se deve principalmente aos artistas japoneses, que historicamente vendem melhor do que os astros pop mundiais. Não é à toa que diversos artistas do mundo todo fazem grandes shows no Japão.
O Japão possui o segundo maior mercado fonográfico do mundo, ficando atrás apenas dos EUA. Com uma forte cultura e estrutura anti-pirataria e principalmente ao respeito para com os artistas, o Japão tem sentido menos impacto do que outros países, da força da distribuição digital e não autorizada de músicas.
O mercado musical japonês se sustenta principalmente na venda de singles (CDs que possuem geralmente 01 ou 02 faixas seguidas de seus respectivos karaokês) e álbuns. Há muitos estilos musicais que convivem harmoniosamente no Japão. A tradicional canção enka ainda tem muito espaço e possui alguns dos maiores recordistas em venda de discos como o cantor Hikawa Kiyoshi, mas atualmente a grande força do mercado está no pop, conhecido no mundo todo como J-pop.
A música no Japão inclui uma grande variedade de estilos distintos tanto tradicionais quanto modernos. A música local geralmente aparece em karaokês, que possuem contratos com as gravadoras para a divulgação dos lançamentos musicais e para o lançamento de novos cantores. A música japonesa tradicional é muito diferente da música ocidental, visto que a estruturação normalmente é baseada nos intervalos da respiração ao invés de cronometragem matemática.
Todos os anos a Oricon, principal empresa responsável pelas medições relacionadas ao mercado fonográfico japonês, divulga um ranking com os artistas que mais faturaram no ano. O faturamento como é medido pela Oricon leva em consideração o montante somado de todos os produtos relacionados ao artista, desde que sejam singles, álbuns, DVDs e Blu-rays durante o ano. A Oricon divulga mensalmente diversos tipos de Rankings, divididos por categorias de mídias, como DVDs, Livros, Jogos, CDs por estilos musicais, entre outros.
Mesmo tendo faturado cerca de 150 milhões a menos que em 2015, o grupo “Arashi” continua como líder em faturamento no Japão. Com 3 singles lançados em 2016 e 01 álbum, o Arashi mais uma vez fica com o topo do ranking da Oricon, mostrando que o principal grupo da Johnny’s Entertainment ainda domina o mercado fonográfico japonês. O grupo “Arashi” teve um faturamento de 12.183.000.000 de Ienes ou aproximadamente R$ 333.675.120,00 segundo a Oricon.
Em segundo lugar em faturamento, ficou o grupo “SANDAIME J SOUL BROTHERS” com um faturamento de 8.256.000.000 Ienes ou aproximadamente R$ 226.120.150,00. O Sandaime, que em 2015 estava na terceira posição do ranking da Oricon, faturou pouco mais de 2 bilhões de ienes a mais em 2016, se consolidando de vez como uma das maiores forças da agência LDH no mundo da música.
No Brasil, podemos observar um crescente volume de apreciadores da música japonesa. Devido aos inúmeros eventos orientais que ocorrem pelo país todo, a música japonesa tem sido divulgada extensamente para as pessoas de todas as descendências.
Com a popularização da música japonesa no Brasil, diversos cantores famosos do Japão tem feito shows, principalmente na cidade de São Paulo, como os cantores Itsuki Hiroshi e Hashi Yukio, as cantoras Yashiro Aki, Kozakura Maiko e Maki Yuko, entre muitos outros que já tem data de apresentação marcada ainda para este ano, como a famosa cantora Mizumori Kaori, uma das cantoras do estilo enka mais famosas da atualidade no Japão, que se apresentará no mês de agosto no auditório do Anhembi.
No Japão, podemos observar um movimento de ecletismo entre os diversos artistas. Nos famosos programas de TV “BS Nipon no Uta” e “Utakon”, programas musicais tradicionalmente do estilo enka/kayo, tem trazidos muitos cantores do estilo J Pop para interpretar grandes sucessos de estilos tradicionais. Um grande exemplo foi o grandioso show ocorrido no inicio de abril de 2017 em memória dos 80 anos que a saudosa cantora Misora Hibari completaria neste ano. Este show, que aconteceu no Tokyo Dome, reuniu cantores como Itsuki Hiroshi, Tendo Yoshimi, Hikawa Kiyoshi, AKB48, EXILE, May J., Shota Shimuz, entre muitos outros, que interpretaram os grandes sucessos da rainha da música enka.
Estilos Musicais do Japão: Primórdios da Música Japonesa e Minyo
Há duas formas de música reconhecidas como as formas mais antigas de música tradicional japonesa. Elas são o shōmyō (声明 ou 聲明), cânticos budistas, e o gagaku (雅楽) ou música orquestrada da corte, ambas datando dos períodos Nara e Heian. O gagaku é um tipo de música clássica que foi apresentado na corte imperial desde o período Heian. O Kagura-uta (神楽歌), Azuma-asobi(東遊) e Yamato-uta (大和歌) são repertórios indígenas. O Tōgaku (唐楽) e o komagaku originaram-se da dinastia Tang através da península coreana. Além disso, o gagaku é dividido em kangen (管弦) (música instrumental) e bugaku (舞楽) (dança acompanhada por gagaku).
Os honkyoku (本曲 “peças originais”) se originaram no início do século XIII. Elas são peças acompanhados do shakuhachi (尺八) tocadas por sacerdotes da seita Fuke do budismo zen. Esses sacerdotes, chamados de komusō (“monge vazio”), tocavam o honkyoku para receber donativos e para obter a iluminação. A seita Fuke deixou de existir no século XIX, mas uma linhagem verbal e escrita de muitos honkyoku continua ainda hoje, embora este tipo de música atualmente seja praticada em concertos. Os samurais geralmente ouviam e se apresentavam nessas atividades musicais, a fim de enriquecer suas vidas espitiruais e alcançar um maior entendimento e compreensão.
De uma forma geral, assim como em outros países, o Japão possui estilos musicais próprios que convivem junto dos estilos musicais globalizados. Dentro da gama dos estilos tradicionais, existem sub-grupos. O Japão, apesar de possuir uma extensão territorial pequena, cada uma de suas províncias possuem canções típicas bem distintas. O estilo musical que mais evidencia esta regionalização é o Minyo(民謡). Este estilo musical era interpretado geralmente com o acompanhamento de 01 ou 02 instrumentos que variavam conforme a região do Japão.
Músicas folclóricas japonesas (Minyo) podem ser agrupadas e classificadas de muitas formas diferentes, mas geralmente se pensa em quatro categorias principais: músicas de trabalho, músicas religiosas (como o sato kagura, uma forma de música xintoísta), canções usadas para cerimônias como casamentos, funerais e festivais (matsuri, especialmente o Obon), e músicas infantis.
No Minyo, os cantores geralmente são acompanhados por shamisen, taiko e shakuhachi. Outros instrumentos que podem acompanhar são o shinobue,o kane, o tsuzumi e o koto. Em Okinawa, o instrumento principal é o sanshin. Eles são instrumentos tradicionais japoneses, mas a instrumentação moderna, como guitarras elétricas e sintetizadores, é também usada, com cantores de enka fazendo apresentações de canções tradicionais de Minyo em versões mais modernas.
Os termos que geralmente são usados quando se fala de Minyo são “Ondo”, “Bushi”, “Bon Uta” e “Komori Uta”. Um “Ondo” geralmente descreve qualquer música folclórica com um balanço característico que geralmente é acompanhado de dança. A canção folclórica típica ouvida em festivais de dança de Obon(dia de finados) geralmente é a “Ondo”. Um “fushi” é uma música com uma melodia distinta. Seu nome, que se pronuncia “Bushi”, significa “melodia” ou “ritmo”. A palavra é raramente usada, mas muitas vezes antecede um termo que se refere à ocupação, localização ou nome. O “Bon Uta”, como o nome sugere, são canções para o Obon, o festival “Tooro Nagashi”. O “Komori Uta” são canções infantis. Os nomes das músicas de Minyo geralmente incluem termos descritivos, muitas vezes no final. Por exemplo: Tokyo Ondo, Kushimoto Bushi, Hokkai Bon Uta e Itsuki no Komoriuta.
Muitas dessas músicas incluem uma tensão extra em certas sílabas conhecidos como kakegoe. Os kakegoe geralmente são gritos de alegria, mas no Minyo, eles muitas vezes são incluídos como parte da música. Há muitos kakegoes diferentes, variando de região para região. No minyo de Okinawa, por exemplo, ouve-se o “ha iya sasa!”. Na ilha principal do Japão, no entanto, é mais comum ouvir “a yoisho!,” “sate!,” ou “a sore!”. Outros kakegoes são “a donto koi!” e “dokoisho!”
O estilo musical “Minyo” ( 民謡) pode ser considerado como o gênero mais tradicional da música japonesa . O termo é uma tradução da palavra alemã “Volkslied” (canção popular) e foi usado somente desde o vigésimo século. Algumas ramificações deste gênero incluem “inaka bushi” ( “música country”), “inaka buri” ( “sons do interior”), “uta hina” ( “canção rural”). Em sua grande maioria, as letras do estilo “Minyo” estão ligados diretamente ao trabalho ou aos ofícios específicos e foram originalmente cantados como forma de incentivo. Posteriormente, o estilo “Minyo” foi introduzido como entretenimento, como acompanhamento de dança , ou como componentes de rituais religiosos.
Os principais instrumentos musicais tradicionais japoneses são:
Taiko (太鼓) engloba uma variedade de instrumentos japoneses de percussão. No Japão, o termo refere-se a qualquer tipo de tambor, mas fora do Japão, incluindo o Brasil, o termo é geralmente usado para se referir a qualquer um dos vários tambores japoneses chamados de wadaiko (和太鼓). Evidências arqueológicas sugerem que o taiko existia no Japão já no período Kofun e teria sido introduzido através da influência cultural coreana e chinesa entre 300-900 d.C.
Koto (琴) é uma espécie de harpa lírica japonesa, também chamada de “cítara japonesa”. Possui cerca de 1,80 m de comprimento e é esculpida em madeira paulownia. É um dos instrumentos musicais tradicionais japoneses mais populares, sendo aprendido inclusive pelas meninas em idade escolar. A história do koto é longa, sendo introduzido no Japão por influência chinesa. Era um instrumento típico da aristocracia japonesa, mas que se espalhou para todas as camadas da população ao longo do tempo.
Biwa (琵琶) é um instrumento de cordas japonês com o gargalo curto, estilo alaúde. O biwa é o instrumento escolhido de Benten, Deusa da música, da poesia e da educação segundo o xintoísmo japonês. O biwa é um instrumento japonês inspirado em um alaúde chinês chamado Pipa. Foi introduzido no Japão durante o Período Nara (710-759 dC), sendo um dos cinco instrumentos tradicionais mantidos na Shōsōin, a casa do tesouro nacional Japão.
Shakuhachi (尺八) é um instrumento de sopro de estrutura aparentemente simples: um bocal, o corpo de bambu e cinco orifícios (quatro orifícios na parte frontal e um na parte traseira coberto pelo polegar). O shakuhachi é um instrumento muito presente em cerimônias e rituais do Zen Budismo. O shakuhachi chegou ao Japão no século VI através da influência chinesa. A partir do século XVII até a Restauração Meiji, em 1868, foi o instrumento sagrado dos sacerdotes peregrinos e monges budistas da facção Fuke, que são facilmente reconhecidos devido ao chapéu trançado ocultando o rosto.
Shamisen (三味線)é um dos instrumentos musicais tradicionais japoneses mais conhecidos fora do Japão, especialmente por ser um instrumento muito tocado pelas gueixas. Shamisen, também chamado de sangen, significa literalmente “três cordas”, sendo derivado do instrumento chinês sanxian. Foi introduzido no Japão em meados do século XVI, sendo um instrumento muito popular em Okinawa. As cordas são tocadas com uma palheta em forma de uma folha ginkgo. Existem diversas variedades de sons diferentes para atender diferentes tipos de canções e música.
Sanshin (三線) é muito parecido com o shamisen, porém é um instrumento típico da região de Okinawa. É um instrumento alegre, que convida as pessoas a dançar e por isso, está muito presente em festas populares, casamentos e outras ocasiões onde estão pessoas reunidas. Uma de suas peculiaridades é que ele é fabricado com couro de cobra.
Tonkori (トンコリ) Se o sanshin é um instrumento típico de Okinawa, a ilha localizada ao sul do Japão, podemos dizer que o Tonkori (トンコリ) é um instrumento típico de Hokkaido, ilha localizada ao norte do Japão. O tonkori é considerado uma herança cultural deixada pelo povo indígena Ainu que habita essa região. Trata-se de um instrumento com cinco cordas que praticamente foi esquecida até a década de 1970, mas atualmente este instrumento tem passado por revitalização devido ao aumento do interesse pela cultura ainu.
Kugo (箜篌) é uma espécie de harpa originada na China, mas que foi extinta durante a Dinastia Ming. No século 20, Kugo passou por uma adaptação, no qual adquiriu aparência de uma harpa ocidental. No Japão, o Kugo foi introduzido no Período Nara, em algumas apresentações togaku (música Tang). Durante muitas décadas, o Kugo desapareceu mas recentemente, o instrumento foi revitalizado graças aos compositores Mamoru Fujieda e Tomoko Sugawara que passaram a criar algumas obras tradicionais com o foco neste instrumento.
Horagai (法螺貝), também conhecido como Jinkai (陣貝) são grandes conchas que têm sido utilizados como trombetas no Japão por muitos séculos. Este instrumento ganhou vários nomes de acordo com sua função e existem escolas especiais que ainda ensinam alunos a tocar este instrumento. O horagai também é tocado por monges budistas em alguns rituais como o omizutori e rituais Suni-e no Todai-ji em Nara. Seu uso remonta mais de mil anos, e foi inclusive usado por samurais como forma de emitir sinais. Este instrumento pode produzir três ou cinco notas diferentes.
Komabue (高麗笛) é um instrumento de sopro que surgiu no Japão por influência coreana. Trata-se de uma flauta de bambu transversal com 6 orifícios, muito usada na música tradicional japonesa, peças teatrais kabuki e noh e em músicas Gagaku e Komagaku (músicas populares na corte e aristocracia japonesa).
Durante o século 20 muitas canções foram alteradas para se tornarem melodias altamente trabalhadas que só são interpretadas perfeitamente com muito ensaio e esforço. O estilo “Minyo” é considerado atualmente uma forma de arte que representa as origens musicais do Japão, frequentemente estudada por professores profissionais que podem conceder a seus principais alunos licenças e nomes profissionais para a prática e o ensino.
Ao mesmo tempo, em contraste com o “profissionalização” do “Minyo”, muitas centenas de “sociedades de preservação” (hozonkai) foram estabelecidas para ajudar a preservar esse estilo em suas formas mais tradicionais. Há também centenas de concursos “Minyo”, tanto nacionais como locais, inclusive internacionais que muitas vezes sagram os novos nomes que mantém esta tradição. No Brasil, existem concursos, principalmente na cidade de São Paulo, que incluem como prêmio viagem para o Japão para representar o país nos concursos japoneses ou para se apresentar na mídia japonesa.
Atualmente, grandes cantores da música japonesa, tiveram suas referências artísticas neste estilo musical. O estilo “Minyo” ficou mundialmente conhecido através das Gueixas, como pode ser observado no filme “Memorias de Uma Gueixa” (2005).
Confiram na sequência dois vídeos que representam o estilo “Minyo” da região Norte do Japão e da Região Sul do Japão. O primeiro vídeo traz a canção “Tsugaru Jyongara Bushi” na voz do saudoso cantor Mihashi Michiya com o acompanhamento do Tsugaru Shamisen. Na sequência, confiram a canção “Asadoya Yunta”, canção tradicional da região de Okinawa, interpretada pela cantora Natsukawa Rimi, com o acompanhamento do Sanshin.
Estilos Musicais do Japão: Shoka, Doyo, Gunka e Roukyoku
Duas formas principais de música que se desenvolveram durante este período foram o “Shoka”(唱歌), que era composta para trazer a música ocidental para as escolas, e o “Gunka” (軍歌), estilo musical muito popular no Japão entre o final do Século XIX e até meados de 1960 e 70 e fazia referências à lealdade à nação e sentimentos patrióticos. Algumas canções do estilo “Gunka” são lembrados até hoje em apresentações em shows musicais, como a canção “Doukino Sakura”, que foi regravado por diversos cantores.
Para muitos japoneses, as canções infantis ou “Doyo”( 童謡) retrataram parte de sua infância. Assim como em diversas culturas, elas marcaram uma época de suas vidas e continuam a atravessar gerações. Além de serem ensinadas pelos pais e avós, algumas das músicas infantis japonesas são divulgadas até hoje nas escolas, acompanhadas de coreografia.
Doyo é uma das três categorias da música tradicional japonesa para crianças, conhecida por ter sido escrita por poetas e músicos. Quando surgiu, no Período Taisho, havia um movimento que incentivava a composição de canções infantis de alta qualidade artística. Nesta época, muitos trabalhos foram criados a partir de uma parceria. Kitahara Hakushu, Saijo Yaso e Noguchi Ujo, colaboraram com suas poesias ao trabalhar com compositores como Yamada Kosaku, Nakayama Shimpei, Hirota Ryutaro (1892-1952), e Motoori Nagayo (1885-1945). Graças à contribuição desses artistas, o movimento à favor dessa cultura literária-musical, que acabou tornando-se parte do folclore japonês, continuou forte por vários anos e só veio a enfraquecer no final da década de 30.
Com o estabelecimento da educação universal no país, em 1872, a categoria “Shoka” tornou-se parte do currículo escolar do primário. A composição das canções deste estilo era feita especificamente para ser utilizada em sala de aula. Dessa forma, as palavras escolhidas tinham uma tendência didática e séria, enfatizando principalmente a lealdade ao imperador. As letras das músicas ainda procuravam retratar a beleza da natureza e o espírito do povo japonês.
Por sua vez, a terceira categoria de canção japonesa possui características opostas ao “Shoka”, e também é diferente do “Doyo”. Denominada “Warabe Uta”, ela inclui paródias e letras um pouco mais ousadas, como se fossem brincadeiras, e num tom mais divertido.
Atualmente, existem diversos programas televisivos infantis que mantém a transmissão destas canções de forma didática. Inclusive, a internet é uma das fontes mais ricas em se tratando de canções deste estilo. Existe um movimento de compositores que compõem canções do estilo “Doyo” com temas atuais.
À medida que o Japão se transformava em uma democracia representativa no final do século XIX, seus líderes contrataram cantores para vender cópias de músicas que transmitiam suas mensagens, visto que os líderes eram geralmente proibidos de falar em público. Os apresentadores de rua eram chamados de enka-shi. Também no final do século XIX, uma forma originária de Osaka de cantar na rua tornou-se popular, chamada de “Rokyoku”. Este estilo incluía as duas primeiras estrelas japonesas, Yoshida Naramaru e Tochuken Kumoemon.
O “Rokyoku”(浪曲), ou “Naniwa-bushi”(浪花節), é um tradicional gênero musical japonês apresentado em forma de narrativa, geralmente acompanhado de instrumento musical, como o shamisen. Dois grandes nomes que representaram este estilo foram os saudosos cantores Murata Hideo e Minami Haruo. Atualmente, este estilo se mistura ao estilo enka, e cantores como Hosokawa Takashi e Miyama Hiroshi também interpretam canções que possuem trechos que fazem menção ao estilo “Rokyoku”.
Confiram na sequência 01 vídeo de cada um destes quatro estilos musicais:
Shoka – “Kimoto Bushi”
Doyo – “A I U E O no Uta”
Gunka – “Douki no Sakura”
Rokyoku – “Tawaraboshi Genba” (Minami Haruo)
Estilos Musicais do Japão: Kayokyoku e Enka
Enka (演歌) é um dos estilos da música japonesa que mistura os sons tradicionais japoneses com melodias ocidentais, principalmente de influência americana. Porém foi criada entre a Era Meiji e Era Taisho, como uma forma de música de protesto.
O termo enka (演 = “atuar” / 歌= “canção”) se formou originalmente na era Meiji, e começou como uma forma de expressão de desacordo político -discursos em forma de música para fazê-los mais atraentes, porém sua forma mudou rapidamente. Foi o primeiro estilo a sintetizar as melodias japonesas com as harmonias ocidentais para criar um novo estilo musical. Entre vários cantores desse gênero, o mais famoso atualmente é o “Principe do Enka”, Hikawa Kiyoshi.
O enka pode ser denominado como música popular japonesa, que está presente em músicas de séries de TV, de filmes, de novelas japonesas, etc. Suas letras contém palavras de melancolia ou nostalgia, tendo como palavras principais: mãe, lágrimas, saquê (aguardente de arroz), lembranças, separação, terra natal, mar, etc…
Até a década de 1990, este estilo musical tinha grande participação no programa anual de final de ano, NHK Kouhaku Utagassen promovido pela TV Estatal NHK, em que os times branco (masculino) e vermelho (feminino) disputam para saber qual será o time vencedor do ano.
Em 3 de janeiro de 1951 a TV pública japonesa NHK (日本放送協会 Nippon Hoso Kyokai ou em inglês Japan National Broadcasting Company) cria esse tradicional programa chamado de Kouhaku Utagasen, que na véspera de ano novo oferece apresentações musicais dos mais variados estilos musicais e promove competições entre duas equipes, feminina e masculina, de artistas. No início, este show de final de ano trazia como participantes os cantores e artistas que tiveram maior visibilidade e sucesso na mídia japonesa durante o ano recorrente.
Muitos cantores famosos e populares contribuíram para que o estilo enka ficasse cada vez mais popular, e entre eles podemos citar uma que além de atriz é considerada a rainha do Enka, a saudosa cantora Misora Hibari. Na década de 90, dois grandes cantores se destacaram nas edições do Kouhaku Utagasen, a cantora Kobayashi Sachiko e cantor Mikawa Kenichi, famosos pelas suas apresentações grandiosas neste evento e que sempre eram aguardados ansiosamente pelo publico.
Atualmente o Kayokyoku(歌謡曲) é um termo utilizado para designar a música pop japonesa da Era Showa (1926-1989), mas a consolidação deste gênero se inicia propriamente na década de 1960 perdurando até o final dos anos 80, foi no período pós-guerra que o Japão passou a absorver cada vez mais a cultura ocidental, sobretudo no campo da música. Segundo o livro “JAPOP – O poder da Cultura Pop Japonesa” de Cristiane Sato, o Kayokyoku nomeava o estilo que mais tarde passou a ser conhecido por Enka, afinal este também é música popular japonesa.
O estilo Kayokyoku teria aparecido pela primeira vez em uma dramatização de Resurrection de Tolstói. A música “Kachusha no Uta”, composta por Shinpei Nakayama, foi cantada por Sumako Matsui em 1914. A canção tornou-se um enorme sucesso entre os “enka-shi” e teve um dos primeiros recordes de venda no Japão.
No Kayokyoku estão incluídos os mais variados estilos ocidentais (jazz, rock, blues, bossa nova, romântico, etc.), seguindo tendências de época, acompanhando a moda dos anos que se seguiram.
Embora o J-Pop esteja conquistando o mundo afora, o que é muito satisfatório para todos os fãs do gênero, falta muito ainda para que a geração atual alcance o nível de popularidade que Sakamoto Kyu conseguiu na década de 1960 interpretando “Ue wo Muite Arukou”, ou “Sukiyaki”, como ficou conhecida no ocidente, a canção nipônica mais famosa de todos os tempos. Lançada na Inglaterra e EUA, traduzida e regravada por diversos outros artistas de diversas nacionalidades, “Sukiyaki” rendeu muitas versões abrindo as portas da cultura japonesa ao mundo todo. No Brasil, o conjunto Trio Esperança gravou pela primeira vez “Olhando para o céu” em 1964, um título mais fiel ao original japonês. Kyu Sakamoto morreu em 1985 no vôo 123 da Jal, um dos mais trágicos acidentes aéreos da história.
Grandes nomes da música enka como Itsuki Hiroshi, Miyako Harumi, Kitajima Saburo, Shimakura Chiyoko, entre muitos outros, fazem enorme sucesso até os dias de hoje. Em meados da década de 80, grandes nomes surgiram na música enka. Formou-se também o conhecido “Enka Bigin Hime”(Belas Princesas do Enka), composto pelas cantoras Fuji Ayako, Godai Natsuko, Sakamoto Fuyumi, Kozai Kaori e Nagayama Yoko, cantoras que fazem grande sucesso até hoje. Neste período, grandes nomes como Hosokawa Takashi, Yamamoto Joji, Koganezawa Shoji fizeram grande sucesso também.
O estilo Enka ou Kayokyoku teve um enorme declínio durante a década de 90. A Indústria Fonográfica Japonesa investiu enormemente em grupos de J Pop, que tem como principal característica o estilo americanizado. Durante um grande período, não se via o lançamento de novos cantores do estilo enka. A participação dos cantores do estilo Enka no show de final de ano Kouhaku Utagasen da TV NHK diminuiu drásticamente, chegando a ser apenas 30% dos participantes. Em contrapartida, o estilo Enka ainda é o mais cantado nos vários Karaokes existentes no Japão, inclusive em outros países.
O estilo Enka iniciou seu renascimento com o lançamento do cantor Hikawa Kiyoshi em 2000. O seu primeiro single, “Hakone Hachiri no Danjiro”, chegou à incrível marca de 1 milhão de cópias vendidas. O rapaz de 23 anos com sorriso tímido conquistou o Japão, e é o principal precursor da nova fase da música enka. Atualmente, considerado o maior artista da mídia japonesa, ele leva multidões aos seus shows, onde interpreta grandes sucessos do passado, conhecidos como “Natsumero”(canções nostálgicas) e canções de variados estilos musicais.
Nos últimos cinco anos, podemos observar o lançamento de diversos cantores que estão formando a nova geração da música enka, nomes como Yamauchi Keisuke, Miyama Hiroshi, Takeshima Hiroshi, Ichikawa Yukino, Mizumori Kaori e Shimazu Aya. Percebemos que a música enka tem ganhado espaço na mídia nos últimos anos. Os programas televisivos estão reformulando a forma de apresentarem suas atrações, criando uma interação maior entre os cantores e o público.
O Japão é um país que tradicionalmente valoriza seus artistas, e normalmente os shows sempre estão lotados. Novos talentos são divulgados em diversos locais, incluindo casas de karaokês, eventos em associações e até mesmo em espaços públicos, como em parques ou shopping centers. Isso é também um reflexo da paixão que o povo japonês tem pelo karaokê, tema que discutiremos em outra oportunidade.
No fim, os estilos enka e kayokyoku se misturam. Em geral, os cantores do estilo enka possuem em suas discografias, músicas dos dois estilos.
Confiram a seguir alguns vídeos de alguns dos grandes representantes da música enka/kayokyoku.
Sakamoto Kyu – “Ue wo Muite Arukou”, precursor da internacionalização da música japonesa.
Misora Hibari – “Kawa no Nagare no Youni”, considerada a rainha da música enka, interpretando um de seus maiores sucessos e clássicos da música japonesa.
Itsuki Hiroshi – “Chigiri”. O cantor Itsuki Hiroshi é considerado o “Rei da Musica Enka”. Um dos mais versáteis cantores, além de cantor, ele também é compositor, produtor, músico e ator. Para os brasileiros, ele é comparado ao cantor Roberto Carlos. Já veio duas vezes ao Brasil conquistando uma legião de fãs pela sua simpatia e profissionalismo.
Gobijin Enka Hime(Fuji Ayako, Godai Natsuko, Sakamoto Fuyumi, Kozai Kaori e Nagayama Yoko) – “Kokoro no Ito”. Este single lançado originalmente em 1994 em homenagem às vitimas do grande Terremoto de Kobe, uniu estas cinco grandes cantoras em uma linda música.
Hikawa Kiyoshi – “Otoko no Zessho”. Confiram o video clip do mais recente lançamento do “Principe do Enka” Hikawa Kiyoshi.
Estilos Musicais do Japão: J-Pop, J-Rock e Anime Songs
O J-pop, uma abreviatura para Japanese pop, é um gênero musical amplo que entrou no mercado musical do Japão na década de 1990. O J-pop moderno possui suas raízes na música pop e rock da década de 1960, como os The Beatles. O J-pop foi mais definido por bandas japonesas de new wave, como Yellow Magic Orchestra e Southern All Stars no final da década de 1970. Posteriormente, o J-pop substituiu o enka/kayokyoku na cena musical japonesa. O termo foi cunhado pela imprensa japonesa para distinguir a música japonesa da música estrangeira.
Os artistas musicais “Japanese idol” são uma parte significante do mercado musical, com girl groups e boy bands constantemente no topo da Oricon. Eles incluem a boy band Arashi, que teve os singles mais vendidos durante vários anos, e o girl group AKB48, que teve os singles mais vendidos em todos os anos desde 2010.
Em 1984, o álbum Thriller do músico americano Michael Jackson tornou-se o primeiro álbum de um artista ocidental a vender mais de um milhão de cópias na história da Oricon. Seu estilo é citado como um das referências da dance music japonesa, levando à popularidade do Avex Group e do Johnny & Associates.
Artistas da Avex como Every Little Thing e Ayumi Hamasaki tonaram-se populares na década de 1990, mas novos nomes surgiram no final da década de 1990, incluindo Utada Hikaru e Morning Musume. O álbum de estreia da Utada Hikaru, First Love, conseguiu ser o álbum mais vendido no Japão com mais de 7 milhões de cópias vendidas, enquanto Ayumi Hamasaki tornou-se a artista mulher e solo mais vendida do Japão e o Morning Musume permanece como um dos girl groups mais conhecidos na indústria de música pop japonesa.
Na década de 1960, as bandas japonesas de rock imitavam músicos de rock ocidental, como The Beatles, Bob Dylan e os Rolling Stones, juntamente com outras bandas de Appalachian folk music, rock psicodélico, mod e gêneros similares; isto é chamado de Group Sounds (G.S.). John Lennon dos The Beatles mais tarde tornou-se um dos músicos ocidentais mais populares no Japão. O Group Sounds é um gênero de rock japonês que foi popular de meados ao final da década de 1960. Após a popularização do Group Sounds, surgiram alguns cantores-compositores influentes.
O rock folk japonês foi desenvolvido no final da década de 1960. Artistas como Happy End teriam teoricamente desenvolvido o gênero. Durante a década de 1970, ele se tornou mais popular. A banda okinawana Champloose, junto com a Carol (liderada por Eikichi Yazawa), RC Succession e Shinji Harada foram especialmente famosos e ajudaram a definir o gênero. Começando no final da década de 1960 mas sendo mais ativo na década de 1970, surgiram músicos que misturavam o rock com elementos do folk e pop americanos, geralmente rotulados de “folk” pelos japoneses devido ao uso da guitarra acústica. Eles incluem bandas como Off Course, Tulip, Alice (liderado por Tanimura Shinji e Horiuchi Takao ), Kaguyahime(liderado pelo cantor e compositor Minami Kousetsu), Banban e Garo. Artistas solo do mesmo movimento incluem Yosui Inoue, Yuming e Iruka. Grupos posteriores, como Kai Band (liderado por Yoshihiro Kai) e o Southern All Stars, geralmente são colocados no mesmo movimento.
Na década de 1980, Boøwy inspirou bandas de rock alternativo como Shonen Knife, Boredoms, The Pillows e Tama & Little Creatures bem como bandas mais mainstream como a Glay. Em 1980, Huruoma e Ry Cooder, um músico americano, colaboraram em um álbum de rock com Shoukichi Kina, a força motriz por trás da banda okinawana Champloose. Eles foram seguidos por Sandii & the Sunsetz, que misturou ainda mais as influências japonesas e okinawanas. Também durante a década de 1980, as bandas de metal e rock japonesas deram origem ao movimento conhecido como “visual kei”, cujos maiores expoentes são as bandas X Japan, Buck-Tick, Luna Sea, Malice Mizer dentre outras, algumas das quais experimentando sucesso nacional e internacional.
Na década de 1990, os músicos japoneses de rock como B’z, Mr. Children, Glay, Southern All Stars, L’Arc-en-Ciel, Tube, Spitz, Wands, T-Bolan, Judy and Mary, Asian Kung-Fu Generation, Field of View, Deen, Ulfuls, Lindberg, Sharam Q, The Yellow Monkey, The Brilliant Green e Dragon Ash alcançaram um grande sucesso comercial. A B’z é a que teve mais discos vendidos na música japonesa desde que a Oricon começou, seguida pela Mr. Children. Na década de 1990, as músicas de estilo J Pop eram frequentemente usadas em filmes, anime, comerciais de televisão e doramas, tornando-se uma das formas mais vendidas de música no Japão.
A ascensão do pop descartável foi relacionada com a popularidade do karaokê, levando a críticas de que ele é consumista: Kazufumi Miyazawa da The Boom disse que “Eu odeio a mentalidade de comprar, ouvir, jogar fora e cantar em um karaokê.” Das bandas de visual kei, a Luna Sea, cujos membros chamavam a atenção com suas roupas, teve um grande sucesso, ao mesmo tempo que Malice Mizer, La’cryma Christi, Shazna, Janne Da Arc e Fanatic Crisis também alcançavam o sucesso comercial no final da década de 1990.
O primeiro Fuji Rock Festival foi inaugurado em 1997. O Rising Sun Rock Festival foi inaugurado em 1999. O Summer Sonic Festival e o Rock in Japan Festival começaram em 2000. Embora o cenário do rock na década de 2000 não estivesse forte, novas bandas como Bump of Chicken, One Ok Rock, Sambomaster, Flow, Orange Range, Remioromen, UVERworld, Radwimps e Aqua Timez, que eram consideradas bandas de rock, alcançaram o sucesso. O Orange Range também adota o hip hop. Bandas já estabelecidas como B’z, Mr. Children, Glay e L’Arc-en-Ciel também continuam nas paradas de sucesso, embora a B’z e a Mr. Children sejam as únicas bandas a manter altos números de vendas ao longo dos anos.
O Japão é conhecido pelo prestigio de bandas de metal do mundo todo com muitos álbuns ao vivo sendo gravados no país. Exemplos famosos são Unleashed in the East do Judas Priest, Maiden Japan do Iron Maiden, Made in Japan do Deep Purple, One Night at Budokan do Michael Schenker Group e Live at Budokan do Dream Theater.
Bandas japonesas de heavy metal começaram a surgir no final da década de 1970, lideradas por bandas como Bow Wow, formada em 1975 pelo guitarrista Kyoji Yamamoto, e a Loudness, formada em 1981 pelo guitarrista Akira Takasaki. Embora houvesse outras bandas contemporâneas como Earthshaker, Anthem e 44 Magnum, seus álbuns de estreia foram lançados apenas por volta de meados da década de 1980, quando as bandas de metal começaram a ter uma maior exposição.
O hip-hop é uma forma mais nova de música na cena musical japonesa. Muitos sentiam que esta era uma tendência que passaria imediatamente. No entanto, o gênero durou por muitos anos e ainda sobrevive. De fato os rappers no Japão não alcançaram o sucesso dos artistas de hip-hop em outros países até o final da década de 1980. Isto se deveu principalmente à crença no mundo da música de que “as frases em japonês não seriam capazes de formar um efeito de rima que existia nas músicas dos rappers americanos”. Há uma certa estrutura bem definida para a indústria da música chamada de “A Estrutura de Pirâmide da Cena Musical”. Como Ian Condry(Famoso Antropólogo Cultural e Professor de Estudos da Cultura Japonesa de Cambridge) destaca, “observar a cena musical em termos de uma pirâmide oferece uma compreensão mais diferenciada de como interpretar a importância de níveis e tipos diferentes de sucesso.” Os níveis são os seguintes (do mais baixo para o mais alto): fãs e artistas potenciais, artistas que se apresentam, artistas que gravam (indies), artistas de grandes gravadoras e grandes estrelas.
A música pop eletrônica no Japão tornou-se um produto de sucesso com a popularização do “technopop” no final da década de 1970 e década de 1980, começando com a Yellow Magic Orchestra e álbuns solo de Ryuichi Sakamoto e Haruomi Hosono em 1978 antes de alcançar a popularidade em 1979 e 1980. Influenciados por artistas impressionistas, clássicos do século XX, jazz/fusion pop, new wave e technopop, como Kraftwerk e Telex, esses artistas tornaram-se mais comerciais. Ryuichi Sakamoto afirma que “para mim, fazer música pop não é um compromisso porque eu gosto de fazer isso”. Atualmente, artistas mais novos como Polysics fazem uma homenagem explícita a esta era da música popular japonesa. Yasutaka Nakata da Capsule também se envolveu por trás das cenas dos grupos de electropop Perfume e Kyary Pamyu Pamyu, ambas tendo sucesso internacionalmente. Kyary foi nomeada a “Embaixadora Kawaii de Harajuku” por sua visibilidade internacional.
No final da década de 1980, bandas de raiz como Shang Shang Typhoon e The Boom tornaram-se populares. Bandas de raiz okinawanas como Nenes e Kina também obtiveram sucesso comercial e crítico. Isto levou à segunda onda da música okinawana, liderada pelo sucesso súbito da Rinkenband. Uma nova onda de bandas se seguiu, incluindo o surgimento da Champluse e Kina, liderada por Kikusuimaru Kawachiya.
A música-tema composta para filmes, animes (anison (アニソン), tokusatsu e doramas é considerado um gênero separado de música. Vários artistas e grupos famosos gastaram grande parte de sua carreira apresentando e compondo músicas-tema e trilhas sonoras para a mídia visual. Alguns desses artistas são Masato Shimon (atual detentor do recorde mundial de single de maior sucesso no Japão por “Oyoge! Taiyaki-kun”), Ichirou Mizuki, todos os membros do JAM Project, Akira Kushida, Isao Sasaki e Mitsuko Horie. Alguns compositores famosos de músicas-tema japonesas são Joe Hisaishi, Michiru Oshima, Yoko Kanno, Toshihiko Sahashi, Yuki Kajiura, Kōtarō Nakagawa e Yuuki Hayashi. Esporadicamente cantores reconhecidos do estilo enka/kayokyoku são convidados a gravarem temas para novelas, filmes e animes. Uma das cantoras do estilo enka que tem adentrado o mundo da música de anime é a famosa cantora Kobayashi Sachiko. Inclusive o cantor Hikawa Kiyoshi gravou recentemente o tema da última temporada do anime Dragon Ball.
Quando os primeiros jogos eletrônicos foram vendidos, eles possuíam apenas sons rudimentares que eram usados para produzir música. Com o avanço da tecnologia, a qualidade do som e da música que essas máquinas de jogos poderiam produzir melhorou drasticamente. O primeiro jogo a ser reconhecido por sua música foi Xevious, também famoso por suas histórias profundas (para a época). Embora muitos jogos tivessem músicas bonitas para acompanhar o jogo, um dos jogos mais importantes na história da música dos videogames é Dragon Quest. Koichi Sugiyama, um compositor que é conhecido por ter composto músicas para vários animes e programas de TV, incluindo Cyborg 009 e o filme Godzilla vs. Biollante, envolveu-se no projeto por pura curiosidade e provou que os jogos podem ter trilhas sonoras sérias. Até seu envolvimento, a música e os sons eram geralmente negligenciados no desenvolvimento dos jogos, com os programadores com pouco conhecimento musical sendo forçados a escrever eles mesmos as trilhas sonoras. Sem temer os limites tecnológicos, Sugiyama trabalhou para criar uma trilha sonora que não cansaria o jogador mesmo com horas e horas de jogo. Yasunori Mitsuda é um compositor muito conhecido por jogos como Xenogears, Xenosaga Episode I, Chrono Cross e Chrono Trigger. Koji Kondo, o gerente de som da Nintendo, também é famoso no mercado japonês de músicas de jogos. Ele é conhecido pelas músicas de Zelda e Mario.
Jun Senoue é famoso por compor as músicas para Sonic the Hedgehog. Ele também é o guitarrista principal da Crush 40, que é conhecida por criar as músicas-tema de Sonic Adventure, Sonic Adventure 2, Sonic Heroes, Shadow the Hedgehog e Sonic and the Black Knight, bem como outros jogos do Sonic.
O grupo de techno/trance music I’ve Sound primeiro ganhou notoriedade por fazer músicas-tema para jogos de computador eroge, e depois por entrar no mercado de animes e compor temas para eles. Ao contrário de outros, este grupo foi capaz de atrair fãs de outras partes do mundo através do eroge e das músicas de anime.
Atualmente, as trilhas sonoras são vendidas em CD e digitalmente em sites como o iTunes. Cantoras famosas como Hikaru Utada, Nana Mizuki e BoA às vezes cantam músicas para jogos, sendo uma maneira de elas se popularizarem ainda mais.
Musica Japonesa: Karaoke
Mais que uma forma de lazer, o karaoke é quase um item obrigatório na vida da sociedade japonesa. Os bares de karaoke são alguns dos locais preferidos dos nipônicos para festejar um aniversário, encontrar os amigos ou fazer um happy hour.
O karaoke foi inventado por Daisuke Inoue, nascido em maio de 1940 em Osaka, que em 1971 montou e alugou os primeiros 11 aparelhos para bares em KOBE (e recebeu em 2004 o prêmio igNOBEL da Paz). Infelizmente ele não patenteou a sua invenção e os aparelhos, fitas de reprodução e cds foram logo copiados pela indústria de entretenimento. Daisuke praticamente não ganhou nada pela sua invenção que é agora mundialmente famosa.
A popularidade do karaoke é tão grande que ele é a quarta diversão preferida dos nipônicos, de acordo com uma pesquisa realizada em 2002 pelo Centro de Desenvolvimento do Lazer, órgão vinculado ao governo japonês. Em 2001, um levantamento indicou que o número de adeptos de karaokê no Japão estava estimado em 48 milhões de pessoas, ou seja, mais de um terço da população do país, 127,3 milhões de habitantes, adoram cantar.
A paixão pelo karaokê dos japoneses é tão grande, que a TV NHK tem um programa de auditório chamada “NHK Nodojiman” que semanalmente leva 20 participantes numa competição televisionada onde sempre estão presentes 02 cantores de grande fama no Japão que comentam as apresentações. Este programa já está no ar há 71 anos, e todos os anos ele acontece por 47 províncias do Japão. Uma vez por ano acontece o NHK Nodojiman Grand Champion”, que leva todos os vencedores das competições regionais para uma apresentação que elege o grande campeão. Geralmente o campeão do Grande Champion se torna cantor profissional no Japão.
No Brasil, o karaoke é um velho conhecido da comunidade nipo-brasileira, que organiza concursos conhecidos como “Taikais”. Como torneio de música é coisa séria entre os descendentes, não foi dificil o surgimento de talentos que extrapolam os campeonatos no Brasil e no Japão e agora fazem sucesso em shows e programas de TV. Participantes de campeonatos de karaoke, os irmãos Melissa e Marcus Manako ganharam notoriedade nacional no programa Raul Gil, da rede Record na época. Na mesma trilha, segue o cantor Joe Hirata, vencedor do NHK Grand Champion Taikai, o mais importante concurso japonês. Outro grande nome que representou o Brasil no Japão foi Karen Ito, que está completando 27 anos de carreira artística em 2017. Outro grande nome que seguiu este mesmo caminho foi o cantor Nobuhiro Hirata, que atualmente faz diversas apresentações pelo Brasil.
Mas a mania que conquistou os japoneses não se restringe somente aos nikkeis. Com a popularização do videokê, cantar se tornou uma opção divertida para que os brasileiros soltem a voz e, pelo menos por alguns minutos, e se sintam estrelas, exatamente como acontece no Japão.
No Brasil, quando se fala em karaokê, as pessoas se lembram dos estabelecimentos comerciais de entretenimento em que qualquer um pode cantar para o público ou em salas privadas, acompanhado por músico ao vivo ou playbacks instrumentais, ou do aparelho de origem coreana, que utiliza-se de cartuchos com seleções de músicas.
Para a colônia nipo-brasileira, falar em karaokê é falar sobre os concursos que acontecem nos finais de semana, durante todo o ano, principalmente na cidade de São Paulo, onde acontecem em média três concursos por fim de semana, em diferentes regiões da cidade. Nesses concursos, participam cantores amadores, divididos em diferentes categorias, por nível técnico e idade somando mais de 300 candidatos por evento.
Os nikkeis, que já gostavam de cantar músicas japonesas acompanhados de pequenas orquestras, aderiram ao uso do play-back e da fita cassete. Com isso, o karaokê começou a ganhar adeptos no País. No início, obter uma fita com as músicas japonesas do momento era uma epopéia. Era preciso ir ao Japão em busca das novidades ou pedir encomendas a parentes e amigos e aguardar as tão esperadas fitas. Mas, de posse delas, ficou muito mais fácil ensaiar para os taikais, os concursos de música japonesa.
Os torneios de karaokê são verdadeiras maratonas musicais. Primeiro, porque os taikais reúnem cantores de todo o País, que viajam horas e até dias para chegar aos locais das apresentações. Segundo, porque os concursos normalmente são realizados em um único dia.
Cada torneio importante, como o Brasileirão, por exemplo, reúne cerca de 600 candidatos, divididos em categorias de idade e nível técnico. As apresentações podem durar até 15 horas ininterruptas que acontecem durante 3 dias, no formato atual do evento.
Mas os esforços dos participantes começam bem antes, com o treinamento, que pode incluir até aulas particulares de karaokê com professores especializados. Além de treinar com afinco, os aspirantes a estrelas de karaokê precisam botar a mão na carteira. Hoje as pessoas investem bastante na produção para que estejam bem no palco.
Mensalmente, os custos com aulas e playbacks de músicas, inscrições em torneios e alimentação, sem contar a roupa e outros ornamentos, podem alcançar a faixa de 300 reais”, explica Luiz Yuki, ex-presidente da União Paulista de Karaokê (UPK), entidade que reúne 270 associações no Estado de São Paulo. Yuki explica que metade das associações de província de São Paulo mantém atividades relacionadas ao karaokê, e cerca de 10 mil pessoas participam regularmente dos concursos. “Na minha opinião, ainda não chegamos ao auge”, diz Yuki. “Isso porque, com o surgimento do videokê, o ato de cantar se popularizou. Em qualquer festa, tem videokê. Naquelas que não tem videokê, as pessoas voltam cedo para casa”, observa.
Hoje, cada taikai conta com cerca de 300 cantores por evento. Isso fez com que esse tradicional divertimento gerasse uma cadeia de negócios, que vai desde a confecção de troféus até os buffets e gráficas para confecção de diplomas e livros programas. Realmente o karaoke evoluiu muito no Brasil.
Contando com 02 entidades oficiais principais que organizam os eventos no Brasil, os concursos Paulista(organizado pela UPK) e Brasileiro(organizado pela ABRAC) são os pontos altos dos amantes do Karaoke no Brasil.
Texto escrito por:
Ricardo Nakase
enkamania.blogspot.com.br
ricardo-nakase.blogspot.com.br
Bibliografia Digital:
Wikipédia, a enciclopédia livre (Versão base de dados Brasileira)
Wikipédia, a enciclopédia livre (Versão base de dados em Inglês)
Wikipédia, a enciclopédia livre (Versão base de dados Japonesa)
http://www.abracbrasil.com.br/
A melhor e mais completa matéria que eu já li sobre a música japonesa.Super atualizada abrangendo todos os estilos musicais do Japão.Parabens!