Entrevista com o atleta de Karate Vinicius Rezende Figueira, Faixa Preta 1º Dan, que conquistou recentemente a medalha de ouro no importante Campeonato da WKF (World Karate Federation) a Premier League de Okinawa. Conquista importantíssima que levou o atleta a terminar o ano de 2015 na Terceira Posição do Ranking Mundial. Primeiro do Ranking Nacional 2015 em sua categoria, titular da Seleção Brasileira que disputará o Mundial este ano na Áustria é detentor de vários títulos importantes como: Vice-Campeão Mundial Universitário em 2014, em Montenegro (Homenageado como o melhor do ano de 2014 pela CBDU – Confederação Brasileira do Desporto Universitário), Terceiro Lugar no Campeonato Mundial Senior 2014 na Alemanha, Vice-Campeão por Equipes no Campeonato Pan-Americano 2015, em Toronto, Canadá, Campeão Sul-Americano 2015, no Chile, Campeão da Premier League de Okinawa 2015, berço do karate, evento do mais alto nível contando com a presença de atletas top 10 do mundo todo, e claro, a fortíssima Seleção Japonesa.
Formado também como Engenheiro Agrônomo pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) e Pós-Graduando em Manejo, Fertilidade de Solo e Nutrição de Plantas pela Universidade Filadélfia, é mais um brasileiro que batalha duro pelo esporte e por sua paixão.
Este ano, mais precisamente em Agosto, quando acontecem os Jogos Olímpicos em nosso país, na cidade do Rio de Janeiro, acontecerá também a votação para a escolha da modalidade que será incluída na próxima edição dos Jogos, em 2020, na cidade de Tokyo, Japão. O Karate figura entre as oito modalidades finalistas e com grande chance de ser escolhida, por isso a coluna traz esta entrevista, para que todos possam conhecer este grande atleta e com reais chances de trazer uma medalha olímpica em Tokyo para o nosso país.
01 – Artes do Japão: Em poucas palavras defina o atleta de alto rendimento Vinicius Rezende Figueira e a pessoa Vinicius Rezende Figueira.
Vinicius Figueira: O atleta Vinicius Rezende Figueira, é dedicado, comprometido com o esporte, religioso, competitivo, e que busca sempre se aprimorar naquilo que faz.
A pessoa Vinicius Rezende Figueira é um ser lapidado pelo esporte, é uma pessoa de pensamentos positivos, feliz, que gosta muito de estar com a família, com os amigos e com as pessoas que amo.
02 – Artes do Japão: Como foi o início no Karate?
Vinicius Figueira: Comecei a treinar quando tinha onze anos com o incentivo de um amigo que morava no mesmo prédio, e que já treinava há mais de um ano.
A academia ficava próximo da minha casa, então um dia resolvi ir lá e fazer uma aula experimental, e acabei gostando. Decidi que iria fazer a matrícula, entretanto, meus pais estavam viajando eu não tinha dinheiro para efetuar a matrícula, foi então que conversei com o professor, e no início, fiz várias aulas sem pagar, mas , desde então, não parei mais. Vieram as competições, participava de todas, mesmo sendo muito novo.
Antes das competições, ficava muito nervoso e passava a noite anterior à competição, no banheiro, durante a competição, em muitas vezes, chegava a vomitar no tatame, mas com o tempo e amadurecimento, hoje, aprendi a controlar o nervosismo.
03 – Artes do Japão: Qual foi a emoção ao se tornar Campeão da Premier League de Okinawa, berço do Karate?
Vinicius Figueira: A emoção foi imensa, porque mesmo já sendo medalhista nas etapas da Premier League da Holanda, Brasil e Alemanha, em Okinawa foi a primeira medalha de ouro em “Premier League”. Aliada a esta conquista pessoal também foi uma honra lutar e ganhar tal título na terra do karate, onde nosso esporte é muito valorizado. Ser reconhecido por ter conquistado medalha de ouro em solo japonês é indescritível.
04 – Artes do Japão: Sendo o atual terceiro colocado no Ranking Mundial e Campeão da Premier League de Okinawa, como é a preparação para o Mundial da Áustria e outros eventos do ano, algo mudou?
Vinicius Figueira: A minha preparação para o mundial da Áustria conta com parte física, técnica e nutricional. Diariamente faço preparação física na academia com treinos de potência e de condicionamento físico. A parte técnica é trabalhada todos os dias em dois períodos, sempre com a orientação do meu Sensei e companheiros de treinos. Cuidando da alimentação com a orientação e supervisão do nutricionista, bem como, fazendo trabalho de prevenção de lesões com o fisioterapeuta. Além desta preparação diária aqui na minha cidade, viajo para treinar com outros atletas integrantes da seleção brasileira em suas cidades. Participo ainda de treinos destinados a atletas da seleção brasileira. Além dos treinamentos no Brasil, também vejo como fundamental para minha preparação a participação em campeonatos internacionais e “trainning in camp” principalmente na Europa.
05 – Artes do Japão: Caso o Karate seja escolhido para os Jogos Olímpicos, quais as principais melhorias (principalmente no Brasil a nível técnico e de patrocínio) que você espera?
Vinicius Figueira: O karate tornando-se olímpico haverá mais investimento por parte da maioria dos países, inclusive o Brasil, favorecendo a preparação de atletas e com isso mais jovens se interessarão pelo esporte. Acredito que as melhorias virão em todos os sentidos, principalmente em nível técnico e número de praticantes de karate. O investimento viabilizará os treinamentos e participação em competições internacionais por parte dos atletas.
06 – Artes do Japão: Hoje no ranking Mundial da WKF (World Karate Federation) alguns atletas brasileiros (você inclusive) tem tido grande destaque e grandes resultados. Na sua opinião o que ainda falta para que o Brasil configure como potência mundial na modalidade como um todo?
Vinicius Figueira: Atualmente o Brasil ocupa a sétima posição no ranking mundial (WKF) e obteve a 9ª colocação na ultima edição do campeonato mundial sênior. Isso mostra a força do karate brasileiro no cenário mundial.
Acredito que para melhorarmos ainda mais, os atletas e técnicos, precisamos participar mais de competições internacionais e fazer mais intercâmbios de treinamentos com outros países que hoje são potência em nosso esporte.
No Brasil temos grandes atletas de excelentes níveis técnicos, mas, que muitas vezes, esses atletas não tem um técnico para acompanhá-los, ou não tem companheiro de treinos e acabam sendo obrigados a treinar sozinhos. Como o nosso país é de tamanho continental e os nossos principais atletas moram distante um dos outros fica difícil organizarmos treinos com todos. A criação de um centro de treinamento que oferecesse esta estrutura para esses atletas ou a maior frequência de treinos com a seleção nacional viabilizados por investimentos privados ou público potencializaria o nível técnico dos nossos atletas.
07 – Artes do Japão: Como é a vida de atleta de alto rendimento do Karate e a de Engenheiro Agrônomo? Como você concilia as duas coisas?
Vinicius Figueira: Sou Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) em dezembro de 2013, do que muito me orgulho, e é uma área que gosto e que tenho afinidade. Após formado conversei com a minha família e falei que queria ser campeão mundial de karate, então decidimos que eu iria dedicar exclusivamente os meus primeiros anos após formado para conseguir o meu objetivo. Assim consigo treinar em até três períodos por dia e viajar para competições e treinamentos. Atualmente faço pós graduação em “Manejo, Fertilidade de solo e Nutrição de Plantas” na Universidade Filadélfia, deste modo, consigo manter o vínculo com a minha área de atuação e ainda posso me dedicar com excelência ao karate.
08 – Artes do Japão: Além de um esporte de alto rendimento, o Karate tem a sua base tradicional filosófica voltada para o bem estar, o autoconhecimento e a evolução espiritual. Como é o seu treinamento neste sentido?
Vinicius Figueira: Por eu ser atleta de alto rendimento de “kumite” muitos pensam que eu faço somente treinos de karate específicos voltados para o “shiai kumite”,na verdade, também pratico o “kihon”, em média, três vezes na semana. Mesmo seguindo a parte esportiva nunca esqueço da parte marcial que o karate me ensina constantemente, tanto no respeito ao próximo quanto na formação do meu caráter. Isso é um dos ensinamentos que eu levo do meu sensei: A fase de atleta passa, entretanto, o karate marcial fica para sempre.
09 – Artes do Japão: Como uma modalidade esportiva e também Arte Marcial, o Karate no Brasil tem suas raízes muito fortes, graças aos atletas e Senseis do passado. Quem são seus ídolos ou inspirações?
Vinicius Figueira: Tive desde o começo da pratica de karate como exemplos o meu “Sensei” Marcelo Oguido e o meu “senpai” Alberto Nishimura. Eles sempre me incentivaram a lutar por uma vaga na seleção brasileira e participar de competições internacionais.
Em 2007 acompanhei os Jogos pan-americanos no Rio de Janeiro e foi a partir daí que comecei a conhecer os atletas da seleção Brasileira. Em 2008 tive a oportunidade de integrar a seleção brasileira juvenil no campeonato sul americano realizado na Argentina e conheci pessoalmente os atletas da seleção adulta.
E nesse contexto tive como referência atletas dessa geração, entre eles grandes nomes como Caio Duprat, Juarez dos Santos, Carlos Lourenço, Douglas Brose e Lucélia Brose.
10 – Artes do Japão: Qual o conselho que você deixa para as crianças e jovens que estão iniciando na modalidade e suas considerações finais?
Vinicius Figueira: Gostaria de falar para as crianças e jovens que sempre acreditem em seus sonhos e sonhem alto. Não importa se você sonha em fazer parte de uma seleção brasileira, ou se quer lutar em uma final de campeonato mundial com milhões de pessoas te assistindo, ou se quer vestir um jaleco de médico, ou r pisar na lua, você é do tamanho do seu sonho e lute sempre até conquistá-lo porque com sua luta e dedicação vocês vão conseguir. E a minha dica é: “não sonhe pequeno porque você vai conquistar aquilo que sonhou”.
Para exemplificar o que eu quero dizer vou contar uma breve história minha. No ano de 2012 eu não fazia parte da seleção brasileira de karate, mas já era apaixonado pelo esporte. No dia do campeonato mundial em Paris eu fui assistir as finais na casa do meu sensei. Assistindo as finais eu fiquei impressionado com a magnitude do evento e no momento em que começou a minha categoria, eu dei um salto do sofá, agarrei a televisão e falei: “No próximo mundial eu vou lutar nesse palco”. Assim eu já tinha o meu objetivo traçado e começou a minha luta pessoal e intensa para conquistá-lo, quando eu não estava treinando, eu estava assistindo vídeos de lutas, e assim era minha rotina. No mundial seguinte, 2014, eu estava exatamente onde eu queria estar, lutando no “palco” pela disputa da medalha de bronze para milhões de pessoas assistirem.
Gostaria de agradecer a oportunidade de contar um pouco da minha história e poder ter contribuído com divulgação do karate.
Agradeço ainda, todos aqueles que de alguma forma contribuíram para que eu pudesse conquistar meus objetivos, pessoas que acreditaram, que sonharam e sonham junto comigo.
Muito obrigado ao atleta Vinicius Rezende Figueira que concedeu gentilmente esta matéria para a coluna “Karate Into The Olympics 2020” do site Artes do Japão, para que possamos fortalecer ainda mais a modalidade rumo às Olimpíadas.
Juntos nesta torcida KARATE INTO THE OLYMPICS 2020!!!!!