Kendô
Kendô – O Caminho da Espada – é a arte tradicional do manejo da espada japonesa.
Atualmente, em âmbito mundial, entende-se como Kendô a prática da arte como preconizada pela Federação Internacional de Kendô (FIK). Paralelamente, existem também estilos antigos tradicionais de técnicas de combate com a espada japonesa, que são mantidos por pessoas e/ou entidades altamente específicas.
Os praticantes desta arte são chamados atualmente de kenshi, que significa “espadachim” em japonês.
Histórico
Os primórdios da arte remontam aos períodos míticos da História japonesa. Pouco se conhece sobre os detalhes das técnicas utilizadas nessa época, mas presume-se que foram sendo aperfeiçoadas de maneira gradual, juntamente com o desenvolvimento das técnicas de metalurgia e de táticas de combate.
Acredita-se que foi por volta dos séculos 16 e 17 que houve uma melhor estruturação dos métodos de manejo da espada japonesa, propiciando o surgimento de diferentes estilos ou escolas da arte. Estima-se que, no seu auge, havia mais de 500 estilos diferentes.
Após a derrocada do Xogunato Tokugawa em 1868, que marcou também o fim do feudalismo japonês e o início da modernização acelerada do Japão, a esgrima japonesa alternou momentos de alta e de baixa, até o surgimento da Dai Nippon Butokukai, o órgão máximo das artes marciais tradicionais japonesas, em 1897.
Com a Dai Nippon Butokukai, houve um grande movimento para a reformulação e unificação dos diferentes estilos, surgindo um conjunto padronizado de técnicas e treinamentos para o manejo da espada japonesa, que se convencionou chamar de kendô.
Entretanto, a eclosão da Segunda Guerra Mundial e a derrota japonesa perante os Aliados levaram ao fechamento da Butokukai, em 1946, e a proibição da prática da arte. Foi somente em 1952 que surgiu a Federação Japonesa de Kendô e a esgrima japonesa voltou a ser amplamente praticada. E, em 1970, a fundação da Federação Internacional de Kendô (FIK) marcou a internacionalização da arte, que é difundida hoje em inúmeros países.
Treinamento
O kendô tem por objetivo o aprimoramento humano por meio do treinamento com a espada.
Para tanto, ele se baseia em três grandes pilares: o treino com equipamentos de proteção (keiko), as formas predeterminadas de ataque e contra-ataque (kata) e o combate (shiai).
O keiko, ou o treino com equipamentos de proteção (chamados de bôgu), utiliza uma espada específica feita de bambu, chamada de shinai, e tem por objetivo o condicionamento físico e mental do praticante e o seu desenvolvimento nos âmbitos técnico, moral e espiritual.
Há quatro grandes regiões do corpo humano que são visadas: o topo da cabeça (men), o antebraço direito (kote), o torso (dô) e a garganta (através do tsuki, ou a estocada).
As formas predeterminadas de ataque e contra-ataque, chamadas de kata, consistem de sete técnicas de espada longa contra espada longa e de três utilizando uma espada curta contra uma longa. Geralmente são executadas sem equipamentos de proteção e podem empregar espadas reais. Esta prática oferece imensas possibilidades ao espadachim, não apenas em termos técnicos, mas especialmente em termos de progresso espiritual.
Mais recentemente, foram criadas mais nove formas básicas para que os praticantes, especialmente os mais iniciantes, ganhem uma base mais sólida do manejo de uma espada japonesa.
Por fim, o combate propriamente dito pode ter um viés mais esportivo-competitivo. Há um conjunto de regras bem definidas, que é aplicado de forma rigorosa por três árbitros que se encarregam de avaliar os golpes desferidos pelos espadachins.
Graduação
O sistema de graduação do kendô possui dois grandes níveis. Os níveis mais baixos são denominados de kyu, organizados em ordem decrescente, de forma que o 1º kyu é a graduação mais alta.
Acima dos kyu existem os níveis mais elevados, chamados de dan, estruturados em ordem crescente. Atualmente, a graduação mais alta é o 8º dan.
Além das graduações, o kendô possui também um sistema de titulação, visando reconhecer a contribuição e a importância do praticante na arte. Existem três títulos: renshi, que pode ser obtido a partir do 6º dan, kyôshi, a partir do 7º, e hanshi, que só pode ser obtido pelos praticantes de 8º dan.
RENSHI |
KYÔSHI |
HANSHI |
6º Dan | 7º Dan | 8º Dan |
7º Dan | 8º Dan |
Em geral, exige-se no mínimo a obtenção do 4º dan para que a pessoa possa atuar como instrutor. Todavia, esta regra pode ser flexibilizada para impulsionar a difusão da arte, acolhendo grupos de praticantes sem acesso fácil a um instrutor gabaritado, por exemplo.
No Brasil, a única entidade oficialmente autorizada para realizar exames e emitir certificados de graduação de kendô é a Confederação Brasileira de Kendô (CBK).
No Brasil
No Brasil, a arte foi introduzida em 18 de junho de 1908, juntamente com os primeiros imigrantes do navio Kasato Maru.
Inicialmente, foi praticada de maneira isolada por alguns entusiastas. Foi apenas 25 anos depois, em 18 de junho de 1933, que o kendô ganhou uma entidade reguladora no Brasil juntamente com o judô, por meio da fundação da Hakkoku Jûkendô Renmei, ou Federação Brasileira de Judô e Kendô. Esta entidade foi a grande gestora das artes marciais tradicionais japonesas no país até o envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em 1942. A partir desse ano, a prática das artes marciais japonesas foi proibida, por ser considerada como nociva aos interesses brasileiros.
Foi somente após o fim da Guerra, em 1945, que a arte começou a ser praticada novamente. Essa retomada levou à organização do primeiro campeonato nacional de kendô e judô do pós-Guerra, em 1950. A visita em 1951 de Tai Morishita, um dos grandes dirigentes japoneses de kendô, bem como a permanência durante um ano, entre 1952 e 1953, do mestre Minoru Nakahara, impulsionaram ainda mais a prática no Brasil.
E em 1959 foi fundada a Zen Hakkoku Kendô Renmei, o órgão máximo do kendô no Brasil e a primeira entidade fora do Japão a se filiar à Federação Japonesa de Kendô. Foi ela a responsável pela promoção da arte em todo o país até a fundação da Federação Paulista de Kendô, em 1982, e da Confederação Brasileira de Kendô, em 1998.
No Brasil, hoje o kendô é regido única e exclusivamente pela Confederação Brasileira de Kendô (CBK), afiliada à Federação Internacional de Kendô (FIK) e à Confederação Latino Americana de Kendô (CLAK) e que possui academias filiadas e/ou grupos de prática na maioria dos Estados brasileiros. E a seleção brasileira é considerada como uma das grandes forças do kendô mundial, sempre obtendo resultados expressivos nos Campeonatos Mundiais, que ocorrem a cada três anos.
Texto:
Luiz Kobayashi – Praticante e grande pesquisador das Artes Marciais e da Cultural Japonesa, autor do Livro: Peregrinos do Sol – A Arte da Espada Samurai
Revisão:
Hiroyoshi Ishibashi – 7º Dan Kyôshi – Diretor de Promoção de Graduações da CBK (Confederação Brasiliera de Kendo)
Contato CBK: http://www.cbkendo.esp.br/
Excelente resumo histórico!