Entrevista com Horácio Tsuneiky Saito, Sensei e atleta da Seleção Brasileira de Karate-do Goju-ryu, recentemente sagrou-se Tetra-Campeão Brasileiro, grande destaque em competições nacionais e internacionais, esperança de medalha no Mundial da Índia no final deste ano:

1 – Artes do Japão – Saito Sensei, quando e onde foi o início de sua prática no Karate-do?

Horácio Tsuneiky Saito – Iniciei no karate em 1992 em Shizuoka no Japão, com o Hanshi Takashi Konomoto, 9º Dan, uma das maiores autoridades da JKGA (JapanKarate-Do Goju-Kai Association) no dojo onde o meu irmão já treinava, ele já era faixa preta quando iniciei.

2 – Artes do Japão – Tendo treinado e competido no Japão, quais as principais diferenças técnicas e de treinamento entre o Brasil e o Japão?

Horácio Tsuneiky Saito – Bom, o Japão é purista, a técnica é tudo. E a riqueza lá nesse sentido é imensa, os campeonatos tem um nível muito alto. O número de participantes geralmente é alto e é preciso ser acima dessa média que já é alta, para se obter algum destaque. Ganhar campeonato estadual no Japão é um feito de proporção bem grande, nacional então nem se fala. Aqui no Brasil, por ser uma cultura ocidental eu creio, muita gente acaba levando a coisa um pouco mais para a parte física, compensando de certa forma o fato de não termos um padrão técnico tão elevado quanto no Japão. São desenvolvimentos diferentes, meios diferentes. Sobre o treinamento, creio que segue-se o mesmo raciocínio. A diferença é que por aqui e no ocidente de forma geral,muitas pessoas tendem a dividir o que é treinamento de Karate Budo e o que é treinamento de Karate Esportivo, vejo muita gente se distanciar de uma coisa totalmente para se dedicar a outra, coisa que no Japão é bem mais difícil de acontecer. Mas é claro que tanto para um quanto para outro sempre há exceções.

3 – Artes do Japão – Com a conquista dos títulos Brasileiro e Sul-Americano no ano de 2012 e neste mês de junho o Tetra-Campeonato Brasileiro, como é a sua preparação diária para o Mundial deste ano?

Horácio Tsuneiky Saito – Na verdade, parei para pensar nisso agora, por causa dessa pergunta e acabo de perceber que são quatro títulos nacionais consecutivos dentro do meu estilo! 2010, 2011, 2012 e agora 2013. Venho me preparando para Mundial desde o dia em que perdi nas quartas de final em 2009. Sempre digo, que se tem alguém que pensou nisso todo santo dia, essa pessoa sou eu. Baseado na experiência vivida lá naquela ocasião, venho treinando desde então a parte técnica com base no top 3, nos atletas da categoria Senior que medalharam lá, nos atletas que eu vi lá fora. Na parte técnica o meu treinamento se divide em melhoria/correção de fundamentos(Kihon) e a prática de Kata em si. Já a parte física, consiste em treinamento funcional, circuito,com ajuestes específicos, de acordo com o período em que me encontro, variando com a chegada de alguma competição no calendário.

4 – Artes do Japão – Em Outubro de 2012, o Sensei foi à Argentina para competir o Sul-Americano e também para prestar exame para 4º Dan, tendo na banca examinadora três 7º Dan Kyôshi, um 6º Dan Renshi e a presença do Saiko-Shihan Yamaguchi Goshi 8º Dan Hanshi, a maior autoridade do Karate-do Goju-ryu no mundo. Como foi esta experiência?

Horácio Tsuneiky Saito – Prazerosa porém pesada! Hahaha. Bom, sempre procuro pensar que o ano atual é o ano que eu mais treinei na minha vida. Mas olha, o ano passado está sendo difícil de superar. Me dediquei muito, muito mesmo. Porque não podia e nem queria deixar que um dos dois objetivos fosse secundário. Foi gratificante, poder justificar o apoio que sempre recebo de todos como atleta, vencendo a competição. E foi também uma tremenda honra ser avaliado no meu exame, por senseis que eu tanto respeito. Não tem preço. Eu nasci dentro da Goju-kai( JKGA e IKGA), então é meio surreal ser avaliado de perto, por senseis que eu sempre tive como referência e idolatria. Foi realmente um ano e tanto, muito louco. Como eu disse, foi pesado, mas quem quer ser grande tem que carregar algum peso não? O valor de cada um mora no preço que cada um paga, em forma de trabalho para a conclusão dos objetivos.

5 – Artes do Japão – Hoje a competição exige cada vez mais um alto rendimento físico. A ciência moderna tem descoberto várias novas teorias no âmbito nutricional e também da atividade física. Quais os benefícios que pode se ter com estas novas descobertas em uma arte marcial tradicional?

Horácio Tsuneiky Saito – Acredito e sempre digo que Karate-Do, é sobre controle. Controle emocional, controle mental, físico e moral também, uma vez que o caráter deve ser moldado dentro do Budo. Então, se é possível que novas ferramentas possam surgir e ajudar no processo de evolução, acho super benéfico. Tanto no aspecto do esporte, como no aspecto tradicional/marcial, dependemos do corpo. Então é preciso fortalecer e preservar bem a “máquina”, sem dúvida a modernidade de uma forma geral, pode contribuir muito neste processo. Mas por outro lado, o bom senso de cada um sempre precisa estar acima de qualquer método ou ferramenta, uma vez que quem “dirige o caminhão” é o praticante através de suas decisões. Não existe milagre.

6 – Artes do Japão – Falando em tradição, fora toda a preparação específica para as competições, como é a rotina do Sensei no quesito Arte Marcial Tradicional?

Horácio Tsuneiky Saito – Bom, é claro que precisamos sempre ser específicos para atingir, concretizar grandes objetivos. Então alguma coisa você tem que treinar mais do que outras, mas na medida exata, sempre dá para manter a parte do treino tradicional. Karate-Do é uma coisa só. Depende de Kihon, de Kata, Kumite, treinamento físico e uma cabeça que viva a sua filosofia, para fazer disso tudo realmente uma coisa só. Portanto a minha rotina é de fazer tudo que puder neste sentido, até porque eu ensino e uma coisa que sempre aprendi, é que você tem que liderar através de bons exemplos. Karate é uma coisa que você é, não uma coisa que você tem.

7 – Artes do Japão – O que o Sensei aconselharia a uma criança que está começando agora no Karate-do?

Horácio Tsuneiky Saito – Sempre escute o seu sensei!! E nunca desista se é realmente isso que você quer! E para os pais, sempre escute o sensei do seu filho, desde que ele seja realmente um sensei. hahaha

8 – Artes do Japão – E qual seria o conselho para os atletas desta nova geração que estão iniciando nesta modalidade cada vez mais competitiva?

Horácio Tsuneiky Saito – Treinar duro sempre. Cultive sempre os princípios do Karate-Do. A competição é parte do Karate-Do, mas não representa o que este é em sua totalidade. Goste de competir!! Mas goste de competir consigo mesmo antes de tudo, a evolução não tem limites para quem é apaixonado pelo treino.

9 – Artes do Japão – Fora o Mundial da Índia, haverá algum outro evento importante ou algo já planejado para o próximo ano?

Horácio Tsuneiky Saito – Haverá o Sul-Americano no Chile no final de 2014, mas quem sabe não tenho algo planejado para antes disso?

10 – Artes do Japão – Considerações finais aos leitores e o contato para quem desejar começar a treinar:

Horácio Tsuneiky Saito – Muito obrigado pela oportunidade!! Fico feliz em dividir um pouco do que é o Karate-Do. Principalmente por poder falar sobre o que é para mim. Obrigado a todos, estaremos juntos por aí #teamsaito !! Para entrar em contato, só acessar karatedogojukai.com.br ou hskarate.com.br